Domingueira Poética
25 - setembro - 2011
Querid@s Amig@s,
A Domingueira Poética compartilha com Vocês parte da "Conspiração Poética", excelente trabalho produzido semanalmente pelo intelectual Antonio Ribas que, juntamente com o Acadêmico Carlos Nejar, lidera a "Ordem Secular do Santo Ofício da Poesia".
Desta feita o Ribas homenageia nosso grande Thiago de Mello, que estará lançando o livro "Poetas da América de Canto Castelhano", na Livraria Travessa de Ipanema - Rua Visconde de Pirajá, 572, nessa próxima terça feira, dia 27, à noite.
O livro reúne cerca de 400 poemas de autores da América Latina, incluindo Pablo Neruda, Jorge Luis Borges e Gabriela Mistral. Imperdível, pois.
Vamos, então, ao trabalho do Antonio Ribas, homenageando Thiago de Mello:
ORDEM SECULAR DO
SANTO OFÍCIO DA POESIA
VERBUM VOLAT, SCRIPTUM MANET.
CARPE DIEM
Terras de Santa Cruz, Rio de Janeiro, 20 de Setembro de 2011.
Continuando neste passeio de espantos no aquém-túmulo, nesta madrugada fui visitar terras do Amazonas; visitar grande Poeta, o menino Thiago. Sobre nosso Poeta de hoje, Paulo Freire escreveu:
"Precisamos do menino que você guarda em você e que ajuda a ser mais homem o homem que você é. Agüente o barco, querido amigo! Muitas madrugadas, cheias de orvalho macio, esperam por você. Andarilho da liberdade, você tem ainda muitos trilhos a percorrer; seus braços longos, muitas crianças a abraçar; suas mãos, muitos poemas a escrever." E Carlos Heitor Cony disse:"Misturando prosa e poesia, crônica e até anúncio imobiliário, o amazonense de Barreirinha, o cidadão do mundo, o personagem de nossa época, o poeta de A Canção do Amor Armado penetra na memória, obtendo a síntese do urbano e do telúrico, do lírico e do social. Comprometido com a sua terra e com a sua gente, de uma vez por todas Thiago de Mello assume a expressão de um poeta verdadeiramente universal."
Um grande Poeta que precisa ser lido, divulgado, cantado -- para ele muita louvação e bem querer.
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Aproveitem sem pudor ou moderação!!!
Escutem o Poeta e seu canto ( Os estatutos do homem ):
http://www.youtube.com/watch?v=XylbBRdiRdI
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OS ESTATUTOS DO HOMEM
Artigo I
Fica decretado que agora vale a verdade.
agora vale a vida,
e de mãos dadas,
marcharemos todos pela vida verdadeira.
Artigo II
Fica decretado que todos os dias da semana,
inclusive as terças-feiras mais cinzentas,
têm direito a converter-se em manhãs de domingo.
Artigo III
Fica decretado que, a partir deste instante,
haverá girassóis em todas as janelas,
que os girassóis terão direito
a abrir-se dentro da sombra;
e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro,
abertas para o verde onde cresce a esperança.
Artigo IV
Fica decretado que o homem
não precisará nunca mais
duvidar do homem.
Que o homem confiará no homem
como a palmeira confia no vento,
como o vento confia no ar,
como o ar confia no campo azul do céu.
Parágrafo único:
O homem, confiará no homem
como um menino confia em outro menino.
Artigo V
Fica decretado que os homens
estão livres do jugo da mentira.
Nunca mais será preciso usar
a couraça do silêncio
nem a armadura de palavras.
O homem se sentará à mesa
com seu olhar limpo
porque a verdade passará a ser servida
antes da sobremesa.
Artigo VI
Fica estabelecida, durante dez séculos,
a prática sonhada pelo profeta Isaías,
e o lobo e o cordeiro pastarão juntos
e a comida de ambos terá o mesmo gosto de aurora.
Artigo VII
Por decreto irrevogável fica estabelecido
o reinado permanente da justiça e da claridade,
e a alegria será uma bandeira generosa
para sempre desfraldada na alma do povo.
Artigo VIII
Fica decretado que a maior dor
sempre foi e será sempre
não poder dar-se amor a quem se ama
e saber que é a água
que dá à planta o milagre da flor.
Artigo IX
Fica permitido que o pão de cada dia
tenha no homem o sinal de seu suor.
Mas que sobretudo tenha
sempre o quente sabor da ternura.
Artigo X
Fica permitido a qualquer pessoa,
qualquer hora da vida,
o uso do traje branco.
Artigo XI
Fica decretado, por definição,
que o homem é um animal que ama
e que por isso é belo,
muito mais belo que a estrela da manhã.
Artigo XII
Decreta-se que nada será obrigado
nem proibido,
tudo será permitido,
inclusive brincar com os rinocerontes
e caminhar pelas tardes
com uma imensa begônia na lapela.
Parágrafo único:
Só uma coisa fica proibida:
amar sem amor.
Artigo XIII
Fica decretado que o dinheiro
não poderá nunca mais comprar
o sol das manhãs vindouras.
Expulso do grande baú do medo,
o dinheiro se transformará em uma espada fraternal
para defender o direito de cantar
e a festa do dia que chegou.
Artigo Final.
Fica proibido o uso da palavra liberdade,
a qual será suprimida dos dicionários
e do pântano enganoso das bocas.
A partir deste instante
a liberdade será algo vivo e transparente
como um fogo ou um rio,
e a sua morada será sempre
o coração do homem.
THIAGO DE MELLO (1926)
----------------------------------------------------------------------Amadeu
Thiago de Mello (Barreirinha, 30 de março de 1926).
Natural do Estado do Amazonas, é um dos poetas mais influentes e respeitados no pais, reconhecido como um ícone da literatura regional.
Tem obras traduzidas para mais de trinta idiomas. Preso durante a ditadura (1964-1985), exilou-se no Chile, encontrando em Pablo Neruda um amigo e colaborador. Um traduziu a obra do outro e Neruda escreveu ensaios sobre o amigo. No exílio, morou na Argentina, Chile, Portugal, França, Alemanha. Com o fim do regime militar, voltou à sua cidade natal, Barreirinha, onde vive até hoje.
Seu poema mais conhecido é Os Estatutos do Homem, onde o poeta chama a atenção do leitor para os valores simples da natureza humana. Seu livro Poesia Comprometida com a Minha e a Tua Vida rendeu-lhe, em 1975, ainda durante o regime militar, prêmio concedido pela Associação Paulista dos Críticos de Arte e tornou-o conhecido internacionalmente como um intelectual engajado na luta pelos Direitos Humanos.
Em homenagem aos seus 80 anos, completados em 2006, foi lançado, pela Karmim, o CD comemorativo A Criação do Mundo, contendo poemas que o autor produziu nos últimos 55 anos, declamados por ele próprio e musicados por seu irmão, Gaudêncio Thiago de Mello.
Obras em Poesia :
Silêncio e Palavra, 1951
Narciso Cego, 1952
A Lenda da Rosa, 1956
Faz Escuro, mas eu Canto, 1966
Poesia comprometida com a minha e a tua vida, 1975
Os Estatutos do Homem, 1977
Horóscopo para os que estão Vivos, 1984
Mormaço na Floresta, 1984
Vento Geral – Poesia, 1981
Num Campo de Margaridas, 1986
De uma Vez por Todas, 1996
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Com agradecimentos ao Ribas, desejo um domingo com muita poesia para Vocês.
Abraços / beijos,
Victor
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