Domingueira Poética
18 / setembro / 2011
Voltei a reler ontem "O homem e sua sombra", um interessantíssimo e original livro de poemas de Affonso Romano de Sant´Anna, nosso querido mineiro, granberyense e ferroviarista (Editora Alegoria, Porto Alegre, 2006 - ilustrações: Maria Ângela Biscaia).
Assim se expressa em relação ao livro o Psiquiatra Carlos Amadeu Botelho Byington:
"A Sombra e o Poeta
Os poetas sempre descreveram a luz e a escuridão da alma e, por isso, não é surpresa que Affonso Romano de Sant´Anna tenha tido a inspiração de escrever sobre a Sombra. Inspiração ou tentação?
No conjunto dos poemas, a Sombra apresenta-se suavemente disfarçada, expondo seu lado terrível apenas em alguns poucos versos. No mais das vezes, ela se mostra irreverente ou esquisita, até mesmo exótica e engraçada, atiçando sedutoramente nossa curiosidade para conhecê-la mais.
Cada poema é uma pequena história, na qual a Sombra surge de forma inesperada e surpreendente. Vamos aos poucos construindo a certeza de que a Sombra é nossa companheira e estará sempre conosco, irresistível e inevitável".
Como aperitivo, aí vão os poemas 5 e 44 (o livro contem 48, sem título, apenas numerados):
5
Era um homem cuja sombra o perfumava.
As pessoas dele se acercavam
mas não conseguiam nele detectar
a flor exata.
Na verdade seu corpo
era um jardim.
Um jardim que caminhava.
44
Um homem acordou sem sombra.
Procurou-a com a lanterna por toda a casa,
no jardim, na praça ensolarada.
Da sombra, nada.
Foi à polícia,
anunciou no jornal:
"Procura-se a própria sombra.
Favor informar endereço & tal".
Não adiantou.
Sombra não lê jornal.
(...)
Abraços / beijos,
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