Delayne Brasil

Delayne Brasil: Natural de Seropédica, cursou Letras na UFRJ. Com o Grupo Poesia Simplesmente publicou três livros (em 1999, 2001 e 2008). Participou de várias coletâneas e publicações literárias. Musicou poemas de diversos autores contemporâneos e lançou, em 2003, o CD “Nota no Verso”. Lançou, em 2013, seu  livro  de poesias "Em Obras".


CD Nota no Verso
Release

O CD "Nota no Verso", da compositora e poeta Delayne Brasil, é o resultado de encontros: da poesia com música; de artistas e escritores; de gerações; de afetos e afinidades; palco e platéia; violão e canto; de grupos e movimentos nos saraus e eventos; e destes nos festivais de Poesia. É, ainda, encontro de estilos, arranjos e instrumentos.
Notar o verso é ver o que está por trás e além. A nota musical no verso é outra e nova leitura, pois "na lata do poeta tudo, nada cabe" E, "a meta do poeta é metáfora" - como bem diz Gilberto Gil. Assim, o título "Nota no Verso" é encontro semântico, onde "notar" e "verso" se desdobram em outros significados.
"Nota no Verso": A música de Delayne Brasil para os seus poemas e dos autores Gilberto Mendonça Teles, João de Abreu Borges, Laura Esteves, Marcus Vinicius, Nei Leandro de Castro, Reynaldo Valinho Alvarez, Silvio Ribeiro de Castro, Tanussi Cardoso e Virgínia Gualberto.







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Entrevista para o site Antologia Momento Lítero Cultural
Quarta-feira, 17 de março de 2010

SELMO VASCONCELLOS - Quais as suas outras atividades, além de escrever ?
DELAYNE BRASIL - Sou membro do Poesia Simplesmente que existe há 12 anos e trabalha com a integração das linguagens artísticas (poesia, teatro, música e dança). O grupo também organiza eventos e apresenta seus espetáculos pelo Brasil. A partir destes encontros, onde, normalmente, também toco violão e canto, resolvi musicar poemas meus e de outros autores, reunindo algumas destas parcerias no cd “Nota no Verso”, lançado em 2003. Além desta atividade, sou funcionária pública do TRT da 1ª Região.
SELMO VASCONCELLOS - Como surgiu seu interesse literário ?
DELAYNE BRASIL - Meu interesse pela literatura surgiu, primeiro, através da leitura de gibis e contos infantis e, logo em seguida, pelas letras das canções da MPB que eu cantava e tocava no violão. Tinha um grande fascínio, também, pela biblioteca particular do meu pai, tanto pela quantidade de livros, como pelo sabor de mistério que o proibido me causava, já que seu escritório era trancado a sete chaves, sendo-nos permitido entrar para ajudar na catalogação. Por fim, acho que a atmosfera do contato vivo com a natureza, já que nasci e me criei no Campus da Universidade Rural do Rio de Janeiro, contribuiu para a construção do sentimento poético. Na adolescência, comecei a rabiscar meus versos e, quando adulta, resolvi fazer uma oficina de poesia na Biblioteca Nacional, ministrada pelo professor e poeta Roberto Pontes - que fundou com os alunos desta oficina o grupo do qual faço parte, o Poesia Simplesmente.
SELMO VASCONCELLOS - Quantos e quais os seus livros publicados dentro e fora do País ?
DELAYNE BRASIL - Estou preparando o meu primeiro livro solo. E, ao longo destes anos, além do CD que lancei com poemas musicados, participei das seguintes Antologias - todas publicadas no Brasil:
Poesia Simplesmente - edição dos autores, 1999;
Poemas Cariocas - Ibis Libris, 2000;
De coração a coração: Poetas em Ação (org. Claudia Luna - projeto pró criança cardiaca), 2001,
Santa Poesia (Casarão Hermê) - MMRio, 2001;
Poesia Simplesmente - Ibis Libris, 2001
Terça ConVerso no Café 1095 dias de poesia - Urbana Arte e Comunicação, ano 2002;
Ponte de Versos (4 anos) - Ibis Libris, 2003;
Terça ConVerso no Café 1825 dias de poesia - Urbana Arte e Comunicação, 2004;
Terça ConVerso no Café 2555 dias de poesia - Urbana Arte e Comunicação, 2006;
Poesia Simplesmente - Galo Branco, 2008;
Ponte de Versos (8 anos) - Ibis Libris, 2008
Poesia do Brasil - Proyecto Cultural Sur-Brasil, 2008;
SELMO VASCONCELLOS - Qual (is) o(s) impacto(s) que propicia(m) atmosfera(s) capaz(es) de produzir literatura ?
DELAYNE BRASIL - O impacto tanto da consciência como da fruição da vida: sua brevidade e fragilidade; sua beleza e horror. Esta fricção densa e intensa produz em mim uma inquietação que tento transformar em poesia.
SELMO VASCONCELLOS - Quais os escritores que você admira ?
DELAYNE BRASIL - A lista seria interminável. Cito, então, dentro de um breve recorte de tempo e gênero, apenas alguns poetas brasileiros: Cecilia Meireles, Mario Quintana, Adélia Prado, Manoel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Ferreira Gulllar, além daqueles que tenho a honra de conhecer pessoalmente nestes anos de organização de eventos.
SELMO VASCONCELLOS - Qual mensagem de incentivo você daria para os novos poetas?
DELAYNE BRASIL - Posso dar a mensagem que dou para mim: persistir no seu ofício, tentando aprender sempre. Se é uma necessidade sua, que se faça, que se produza sem esperar reconhecimento imediato, muito menos sucesso fácil. Poiesis, portanto.

POEMAS:

Um canto

Um canto
sem vista para o pássaro
deu asas ao passado
Pousou na grama, na varanda
nos cômodos da casa

Um canto
no pulo do gato
caiu no colo
esbarrou comigo
brincou com o cão

Um canto
carrapicho
na concha do ouvido
violão antigo
junto aos amigos
perto do chão

Um canto
pulando cerca
amarelinha
na roda, no pique
carrinho de rolimã

Um canto
onda de aroma
café da vizinha
bolinho de chuva
jaca-manteiga
pé de jamelão

Um canto alvo
sob o céu arregalado
carregou a pressa
dos meus passos
para este espanto plácido


Sem brilho

Eros nos olhos
eram unas as almas
eram nuas as almas

Eram

Eros se evadiu
e, errante, invadiu
outros olhos

Açoite

O açoite da solidão vibra na casa:
Ecoa nos vidros embaçados
Espalha a poeira dos símbolos
Suja as roupas mal-passadas
Revira as páginas dos livros
Mancha o cômodo da calma
Arranha os sons dos discos
Mastiga os sonhos aos pedaços
Quebra, dos retratos, o sorriso
Desenterra o vazio
Bate na cara do alívio
Corta a carne dos laços
Arranca a quietude dos semi-vivos
Marca a pele da sorte
Lembra, em nós, o inimigo
Sangra a boca da morte
Lambe o osso da vida


No outono, ganhei girassóis

Do sangue de Van Gogh
escorrem pontilhados,
pinceladas, espirais:
disparam girassóis

Ontem choveu frio
Hoje, dois presentes:
o céu de outono no Rio
e você num ramalhete


Engenhos
Para Márcio Carvalho e Tanussi Cardoso

Há uma terra fértil
nas entranhas deles dois
Um amor que é aragem
aroma que se esparrama
em gomos de afetos

Nas entranhas deles dois
brotam versos
mágicas engrenagens
São engenhos carrossel carruagem
silêncio pegadas miragem

Terra fértil, estes homens
que se doam sem moeda
de cobrança
Moinhos de tenros ventos
semeando verdade e esperança

Nestas veias, um sangue
sem vergonha contagia
quem está perto
Um mar aberto
e, lá no fundo,
a terra fértil