Silvio Ribeiro de Castro


Biografia:

Silvio Ribeiro de Castro nasceu em meados do século XX, numa fazenda no interior do Estado do Rio de Janeiro. Aos sete anos, veio para a cidade grande. Começou a trabalhar aos quinze anos na Shell e, depois, no Banco do Brasil e no Banco Central. Formou-se em Direito pela Faculdade Cândido Mendes. Integra o “Poesia Simplesmente”, grupo que organiza desde 1999, o sarau semanal “Terça ConVerso no Café” e o “Festival Carioca de Poesia”, e que se apresenta em variados espaços – teatros, escolas, universidades, bares, lonas culturais – além de performáticas atuações em praças e ruas.

Embora goste de parodiar Groucho Marx dizendo que não entra em antologias que aceitem a sua participação, já figurou em diversas delas. Publicou três livros de poesias – “Memórias, Confissões & Outras mentiras” (Ibis Libris), “Quando o amor acaba” (Ibis Libris) e “50 Poemas Escolhidos pelo Autor” (Edições Galo Branco) – e escreve roteiros para as peças e esquetes apresentados pelo grupo “Poesia Simplesmente”.

Poemas:


VELEIRO

Os dias nunca mais serão iguais
para quem se faz vela, se faz veleiro
e abandona a segurança do cais
pelo mar da paixão, tão traiçoeiro.
E perde o rumo, perde a razão.
Desafia ventos, tempestades.
Se desespera e se agarra à ilusão
de loucas promessas de felicidade.
Quando negras nuvens, maus presságios,
avisam que amor é sempre engano
e se aproxima a hora do naufrágio,
melhor é desaparecer no oceano,
que, da solidão para sempre cativo,
morrer de amor e continuar vivo.


BRANCO SILÊNCIO, SOLIDÃO AZUL


Usei de sortilégios e amavios,
prometi pulseiras e colares,
uma viagem de sonho num navio,
o pôr do sol de outros lugares.
Acenei com o céu e as estrelas,
e por fim, num louco impulso,
de tanto medo de perdê-la,
ameacei até cortar os pulsos.
No branco silêncio do lençol,
mãos distraídas alisando o pano,
como um peixe que prefere ao anzol
a solidão azul dos oceanos,
bem longe ia seu pensamento,
folha desgarrada, seduzida pelo vento.

E SE O BRASIL...

Guarda nos olhos tua floresta, Curumim, que o homem branco já vem ensinar o significado da palavra Fim.


E se o Brasil nunca tivesse
sido descoberto?
Se ainda andássemos livres
peito aberto
sorvendo o azul do céu
brisa da manhã
adorando o sol
e a cada noite vã
no calor da rede
a pele nua
adormecêssemos nos braços
da morena lua
ouvindo o vento
no arvoredo
sem sentir fome, sede
ou medo
Pau-brasil preso
a suas raízes...
Seríamos mais felizes?

ENSAIO

Você diz que vai embora
e fica
eu digo que não dá mais
e continuo
você faz as malas
e deixa na sala
digo que já tomei uma decisão
e fico em cima do muro
não sei se tudo isso
é pura encenação
ou se é um ensaio
para o futuro


DIA DE VISITA


Todos os domingos
ele faz a barba
e veste sua melhor roupa.
Compra um pacote de biscoitos
e prepara o suco
de laranja.
Sentado num banco
no jardim do asilo,
junto aos outros velhos,
espera a visita dos filhos.
Este domingo, mais uma vez,
eles não vieram.
Mas também, desculpa, fez
um dia tão bonito...