domingo, 1 de maio de 2011

Domingueira Poética / 1º de maio


Domingueira Poética
1º de maio de 2011
 
"No mesmo vagão, eu e alguem
conversa vai, conversa vem
chega a estação
lembrança vai, lembrança vem
meu coração até hoje não desceu do trem"
- Martha Medeiros, "Poesia Reunida" - L & PM Editores, Porto Alegre, 1999
 
"Um trem-de-ferro é uma coisa mecânica,
mas atravessa a noite, a madrugada, o dia,
atravessou minha vida
e virou só sentimento"
- Adélia Prado, "Bagagem"  - Record, Rio, 2006
 
 
Neste domingo, Dia do Trabalho, a Domingueira homenageia o trabalhador ferroviário, cujo dia foi comemorado ontem, 30 de abril, em diversos locais do país.
 
Aqui no Estado do Rio de Janeiro, o Projeto de Lei nº 381 / 2011, apresentado à Assembléia Legislativa pela Deputada Myrian Rios, em 26 / 04 / 2011, vai institucionalizar no calendário do Estado a comemoração no dia 30 de abril de cada ano, reportando-se à data em que, em 1854, o Barão depois Visconde de Mauá inaugurou a primeira ferrovia do Brasil. A propósito, estivemos ontem na Estação Guia de Pacobaíba, em Mauá, Distrito de Magé - RJ,  estação primeira do país. em evento comemorativo que contou com a presença da Marquesa Francisca, bisneta, e do Marquês Eduardo, trineto do Visconde.
 
Pois bem. Para prosseguir nas homenagens, convido Vocês para ouvirem o clássico "O Trenzinho do Caipira", de Heitor Villa-Lobos, interpretado pelo Duo Uniarte - Omar Fadul / flauta e Tíbor Fíttel - piano. Para isso, visitem o site do MPF - Movimento de Preservação Ferroviária, clicando neste link e ligando o som:
 
 
Na página inicial do site, clicar na seção com o título "O Trenzinho do Caipira". E boa viagem sonora!
 
Para fechar a Domingueira, aí vão os versos do poeta pernambucano Ascenso Ferreira, sobre quem escreveu Manuel Bandeira:
 
"Verso metrificado, verso livre, rima, toda musical, frases soltas - todos esses elementos do discurso poético se fundem pela mão de Ascenso numa coisa só, peça inteira, onde não se nota a menor emenda, a menor fenda".
 
TREM DE ALAGOAS
- Ascenso Ferreira
 
O sino bate,
o Condutor apita o apito,
solta o trem de ferro um grito,
põe-se logo a caminhar...
 
- Vou danado pra Catende,
vou danado pra Catende,
vou danado pra Catende,
com vontade de chegar...
 
Mergulham mocambos
nos mangues molhados,
moleques, mulatos,
vêm vê-lo passar.
 
- Adeus!
- Adeus!
 
Mangueiras, coqueiros,
cajueiros em flor,
cajueiros com frutos
já bons de chupar...
 
- Adeus, morena do cabelo cacheado!
 
- Vou danado pra Catende,
vou danado pra Catende,
vou danado pra Catende
com vontade de chegar...
 
Mangabas maduras,
mamões amarelos
que amostram, molengos,
as mamas macias
pra gente mamar...
 
- Vou danado pra Catende,
vou danado pra Catende,
vou danado pra Catende
com vontade de chegar...
 
Na boca da mata
há furnas incríveis
que em coisas terríveis
Nos fazem pensar:
 
- Ali dorme o pai da mata!
- Ali é a casa das caiporas!
 
- Vou danado pra Catende,
vou danado pra Catende,
vou danado pra Catende
com vontade de chegar...
 
Meu Deus, já deixamos
a praia tão longe...
No entanto avistamos
bem perto outro mar...
 
Danou-se! se move,
se arqueia, faz onda...
Que nada! É um partido
já bom de cortar...
 
- Vou danado pra Catende,
vou danado pra Catende,
vou danado pra Catende
com vontade chegar...
 
Cana-caiana, cana-roxa,
cana fita,
cada qual a mais bonita,
todas boas de chupar...
 
- Adeus, morena do cabelo cacheado!...
Ali dorme o pai da mata!
Ali é a casa das caiporas!
 
Vou danado pra Catende,
vou danado pra Catende,
vou danado pra Catende
com vontade de chegar...
 
"Trem de Alagoas", com ilustrações de Guazzelli - Ed. Martins Fontes, São Paulo, 2009
 
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Uma "boa viagem" para Vocês. Nos trilhos da saudade!
Abraços / beijos,
 
Victor
 
 
 
 
 



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