Biografia:
Poemas:
VELEIRO
Os dias nunca mais serão iguais
para quem se faz vela, se faz veleiro
e abandona a segurança do cais
pelo mar da paixão, tão traiçoeiro.
E perde o rumo, perde a razão.
Desafia ventos, tempestades.
Se desespera e se agarra à ilusão
de loucas promessas de felicidade.
Quando negras nuvens, maus presságios,
avisam que amor é sempre engano
e se aproxima a hora do naufrágio,
melhor é desaparecer no oceano,
que, da solidão para sempre cativo,
morrer de amor e continuar vivo.
BRANCO SILÊNCIO, SOLIDÃO AZUL
Usei de sortilégios e amavios,
prometi pulseiras e colares,
uma viagem de sonho num navio,
o pôr do sol de outros lugares.
Acenei com o céu e as estrelas,
e por fim, num louco impulso,
de tanto medo de perdê-la,
ameacei até cortar os pulsos.
No branco silêncio do lençol,
mãos distraídas alisando o pano,
como um peixe que prefere ao anzol
a solidão azul dos oceanos,
bem longe ia seu pensamento,
folha desgarrada, seduzida pelo vento.
E SE O BRASIL...
Guarda nos olhos tua floresta, Curumim, que o homem branco já vem ensinar o significado da palavra Fim.
E se o Brasil nunca tivesse
sido descoberto?
Se ainda andássemos livres
peito aberto
sorvendo o azul do céu
brisa da manhã
adorando o sol
e a cada noite vã
no calor da rede
a pele nua
adormecêssemos nos braços
da morena lua
ouvindo o vento
no arvoredo
sem sentir fome, sede
ou medo
Pau-brasil preso
a suas raízes...
Seríamos mais felizes?
ENSAIO
Você diz que vai embora
e fica
eu digo que não dá mais
e continuo
você faz as malas
e deixa na sala
digo que já tomei uma decisão
e fico em cima do muro
não sei se tudo isso
é pura encenação
ou se é um ensaio
para o futuro
DIA DE VISITA
Todos os domingos
ele faz a barba
e veste sua melhor roupa.
Compra um pacote de biscoitos
e prepara o suco
de laranja.
Sentado num banco
no jardim do asilo,
junto aos outros velhos,
espera a visita dos filhos.
Este domingo, mais uma vez,
eles não vieram.
Mas também, desculpa, fez
um dia tão bonito...